Esta matéria tem como base a evolução da Covid-19 considerando a série histórica do panorama nacional. A análise contém a inferência de cenários possíveis para a evolução da Covid-19 em São João Nepomuceno, no curto prazo. Em pouco mais de dois meses de evolução o novo coronavírus 2019 infectou mais de 125 mil pessoas em todos os continentes, matou quase 4.600 mil e mostra franca e vigorosa expansão fora da China. A questão central não é a taxa de mortalidade da Covid-19 (que tem variado em valores nada desprezíveis de 3 a 4%), mas a velocidade com que a mesma gera pacientes graves levando os sistemas de saúde a receber uma demanda muito acima de sua capacidade de atendê-la adequadamente.
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Quanto mais casos um país possui, mais semelhante é o padrão de disseminação viral. A partir de 50 casos, por exemplo, Coréia do Sul, Irã e Itália mostram evoluções surpreendentemente semelhantes, no Brasil já chegamos a 160 casos, sendo em 02 em Minas Gerais, o primeiro trata-se de uma mulher, de 47 anos, com município de residência em Divinópolis, e o segundo caso também uma mulher de 38 anos que mora em Ipatinga, no Vale do Rio Doce.
O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), decretou situação de emergência em saúde pública no estado, em decorrência da pandemia de coronavírus. O texto, publicado na manhã da última sexta-feira (13) no Diário Oficial Minas Gerais, prevê a realização compulsória de exames médicos, coleta de amostras clínicas, testes laboratoriais e vacinação. A Secretaria de Estado da Saúde (SES), no entanto, afirma investigar 289 possíveis infecções, de acordo com o boletim divulgado na tarde da última quinta-feira (12).
O decreto que começa a valer a partir de hoje e vigora enquanto perdurar o estado de emergência, dispensa a licitação de bens, serviços e insumos de saúde destinados ao enfrentamento do surto global.
O novo coronavírus possui capacidade de se decuplicar (multiplicar o total de casos por 10x) a cada 7,2 dias – em média. Se extrapolarmos esta velocidade de multiplicação no cenário brasileiro, a partir do momento em que o Brasil possui 160 casos, podemos chegar a mais de 16.000 mil casos em 15 dias, e cerca de 160 mil casos em 21 dias. Considerando esta projeção, podemos entender melhor o racional das medidas restritivas adotadas na China e agora na Itália e nos EUA.
O cenário e riscos atuais exigem mudanças em nossas atitudes e ações. Precisamos estar preparados para oferecer respostas rápidas e coordenadas como Sistema, através de processos que suportem cooperação mútua.
Os gestores em saúde municipal devem estar cientes e responsavelmente preparados para os piores cenários. Não é que pelo fato do município não ter caso o histórico de outras epidemias passadas, como o H1N1, a Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars) e a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (Mers), que estaremos imunes ao COVID 19.
Projetar o número de casos a que São João Nepomuceno pode chegar é uma tarefa sujeita a inúmeras incertezas: como o vírus irá se comportar no hemisfério sul, longe do inverno? Qual será a infectividade do mesmo em nosso ambiente? Em um país com as dimensões continentais como o Brasil, qual será a variação entre as diferentes regiões? Qual será o impacto de eventuais medidas restritivas (como as adotadas na China e agora, Itália) na infectividade?
Algumas dúvidas importantes sobre o comportamento do novo coronavirus no hemisfério sul deverão ser respondidas nas próximas semanas. Neste momento vários países do hemisfério sul acumulam casos (Australia, Nova Zelândia, Argentina, Chile, Peru, Brasil, Ecuador, África do Sul e África Sub-Sahariana).
O problema é que, se em São João, tivermos, por exemplo, 02 (duas) pessoas que contraiam o vírus, em uma semana poderemos ter 20 contaminados, e iriamos ter atingidos 200 casos em 14 dias. A seriedade é o que vem em seguida. Basta uma semana a mais (nesta projeção hipotética) para que os casos aumentem de 200 para algo em torno de 2.000 mil novos casos (!). Em apenas 21 dias.
O grande desafio é a velocidade com que o novo coronavirus-19 se espalha e gera pacientes graves. Este racional é fundamental para alinhamento de um plano de ação.
Da mesma forma que a projeção de casos é um exercício que esbarra em inúmeras dificuldades, a projeção de leitos oscilará com a mesma imprecisão pois é – em último caso – uma função linear da quantidade de pacientes que necessitam dos mesmos.
Para um cenário de apenas 200 casos confirmados de Covid-19 em 21 dias a partir do caso de número 02, a estimativa médica de demanda é de aproximadamente 15 leitos: cerca de 12 de enfermaria/apartamento e cerca de 03 leitos de UTIs. Será que teremos disponibilidade. E se projetarmos mais 28 dias, em que o número de casos atingiria 2.000 pessoas teremos onde iriamos recorrer para alojar tantos leitos e principalmente UTIs?
Ou seja, a demanda por leitos hospitalares será uma constante no caso de agravamento da epidemia, exigindo mudanças em nossas atitudes e ações, no sentido de estarmos preparados para oferecer respostas rápidas e coordenadas.
Fonte : JORNAL A VOZ DE SÃO JOÃO
1 Comment
Excelente matéria!!! Parabéns