Filho de um casal que produz leite e cachaça no interior de Minas Gerais, o jovem João Lucas Duim, de 22 anos, sempre preferiu os números e a tecnologia ao mundo do campo. Nascido em Bicas e criado na zona rural de Mar de Espanha, município com quase 13 mil habitantes na Zona da Mata, seu maior sonho era ter novas oportunidades e explorar o mundo. Mas, nunca imaginou que estaria de malas prontas para embarcar para a Alemanha em setembro, onde participará do Heidelberg Laureate Forum (HLF) – principal fórum de matemática do mundo.

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Ele faz parte do grupo de 200 estudantes, oriundos de diversos países, que terão a oportunidade de passar uma semana inteira convivendo com personalidades que têm no currículo títulos importantíssimos – como Prêmio Abel, Prêmio Turing, Medalha Fields e Prêmio Nevanlinna.

“A expectativa está altíssima, não acreditei quando soube que faria parte desse grupo seleto. Sempre fui muito curioso, interessado em descobrir como as coisas funcionam. Porém, o fato de estudar em escola pública até o ensino fundamental e não ter acesso à internet até 2014 sempre foram dificultadores. Apesar disso, insisti e deu certo”, conta.

Focado e disciplinado, foi justamente na escola pública que Lucas começou a trilhar seu caminho no mundo da matemática. As participações na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP) renderam sete medalhas – três de ouro, uma de prata e três de bronze – e um convite para se mudar para Fortaleza (CE), onde cursaria o ensino médio no Colégio Farias Brito com todos os custos pagos pela escola.

João ainda estava no nordeste quando recebeu uma ligação da Fundação Getulio Vargas (FGV) para que ele prestasse vestibular na instituição. O garoto foi aprovado no curso de Matemática Aplicada e se mudou para o Rio de Janeiro com moradia garantida e uma bolsa de R$ 1.200. Não contente em fazer uma graduação, ele também se formou em Ciências de Dados e Inteligência Artificial no mesmo período.

“Foi uma loucura. Como as duas graduações tinham matérias iguais, acabei conciliando. Houve períodos em que fiz nove disciplinas, geralmente o pessoal não faz mais que cinco. Outro desafio foi a pandemia, quando tive que voltar para o sítio dos meus pais e havia muitas quedas de energia ou dificuldade em acessar a internet. Já tive que subir no alto de um morro para conseguir fazer reuniões ou enviar provas para um professor”, relata.

Agora, com toda essa experiência acumulada em tão pouco tempo de vida, e cursando mestrado em Modelagem Matemática também na FGV, ele revela seus sonhos para o futuro. “Quero trabalhar para tornar as inteligências artificiais mais seguras e garantir que elas tragam benefícios para a humanidade. Também quero ser uma referência internacional nesta área”, afirma.

FOnte: Jornal O Tempo