Adil ex-Corinthians: do grave acidente e superação á felicidade aos 60 anos.

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Adil ex-Corinthians: do grave acidente e superação á felicidade aos 60 anos.

A vida de Adil mudou completamente de uma hora para outra. Dono de um chute certeiro e com um estilo clássico, típico de um camisa 10 dos anos 1980 e 1990, o ex-meia com passagens por Cruzeiro, Bahia, Grêmio, Portuguesa e que chegou ao Corinthians com direito ao som da sirene no Parque São Jorge viu a carreira ser abreviada após um grave acidente automobilístico em setembro de 2000.

“A vida da gente muda em um piscar de olhos. Eu dormi bem, acordei em um hospital e saí de lá em uma cadeira de rodas. É muita informação para você digerir”

 

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Desenganado por alguns médicos e dado como tetraplégico por causa de sérias lesões na coluna, Adil usou a habilidade que tinha no campo para reagir fora dele, literalmente se levantar e seguir em frente. Após quase 25 anos do acidente, o mineiro de São João Nepomuceno chega aos 60 com alegria, alto astral e gratidão, mesmo com limitações motoras.

ge bateu um papo com Nica, como é conhecido entre os amigos mais próximos. Adil, que virou livro em 2021, relembrou momentos marcantes da carreira, como a chegada badalada ao Timão, a relação com o folclórico presidente Vicente Matheus, a comemoração do Porco, ao lado de Viola, a grande fase na Portuguesa de Emerson Leão e Dener e um gol do meio de campo, destaque no encerramento do Jornal Nacional com William Bonner . 

“Eu saí de casa de 14 para 15 anos para fazer a coisa que mais gostava na vida, que era jogar futebol, e retornei aos 35, depois de um acidente automobilístico, quando fui dado como tetraplégico. Imagina, você passar a vida inteira correndo, fazendo arte e isso tudo vai embora de maneira instantânea?”.

Adil se fez a mesma pergunta por algum tempo depois do dia 26 de setembro de 2000. A data mudou a vida de um atleta de 35 anos, que se planejava para encerrar a carreira no futebol. Adil seguia viagem ao lado do ex-sogro, rumo a Belo Horizonte. No entanto, quando estavam perto de Rio Pomba, na Zona da Mata mineira, o carro perdeu o controle em uma curva e bateu no tronco de uma árvore.

Adil estava no banco do carona, e a pancada atingiu violentamente a porta do veículo, onde estava o então meia da Inter de Limeira. Com lesões sérias nas vértebras C5 e C6, Adil ficou internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) durante um mês e permaneceu no hospital por mais três.

Sem movimentos do pescoço para baixo, Adil deixou o hospital em uma cadeira de rodas e foi para casa em dezembro de 2000 para passar as festas do fim de ano. Ali, quando a família começava a buscar locais com tratamentos específicos para tetraplégicos, a ficha caiu.

— O pessoal começou a buscar tratamento para mim em hospitais referência e foi aí que eu pensei: “Cara, eu estou tetraplégico, sem qualquer movimento do pescoço para baixo”. Eu chorei foi muito — contou.

“Foi aí que eu pensei: ‘Meu Deus, se o campeonato que eu tenho que disputar é este agora, que o Senhor me dê forças, pois vou fazer minha parte’. A minha pré-temporada a partir daquele momento seria ininterrupta. Levei o espírito de competição que eu tinha no campo para aquela nova fase”
— Adil, sobre entender como seria a nova fase da vida dele após o acidente

— Tenho uma tia, que é irmã de caridade e tem 97 anos. Na época ela me disse no hospital: “Meu filho, o vaso quebrou. Agora temos que reconstruir este vaso”. E foi isso.

A resiliência de Adil e a evolução gradual da Medicina foram cruciais para a recuperação dele. O ex-jogador fez tratamento em São Paulo e Juiz de Fora, cidade que fica 65km de São João Nepomuceno, na Zona da Mata mineira.

Mais tarde, quando esteve em Sobradinho, no Distrito Federal, de volta ao futebol como dirigente, Adil fez sessões de ecoterapia, um tratamento com exposição à natureza.

A melhora de Adil foi significativa. Da cadeira de rodas, o mineiro passou para o andador e depois vieram as muletas. Ele recuperou o movimento dos membros superiores, consegue escrever, se alimentar, carregar objetos e dirigir.

O ex-meia considera que a ajuda que recebeu de familiares, amigos, conhecidos e profissionais de saúde foi essencial para que ele conseguisse superar as limitações. No entanto, Adil tem certeza que se ele próprio não acreditasse na recuperação, as coisas não teriam melhorado.

— Eu sempre falo isso com as pessoas que estão ao meu lado. A mensagem é que tem muita gente para ajudar, mas a vontade e a determinação têm de partir de você, que não pode se entregar de jeito algum. Isso me ajudou muito a enfrentar esta dificuldade, muito maior do que a de ser jogador.

“Me disseram depois do acidente, durante a recuperação, para que eu não tivesse vergonha de ser quem eu era. Tenho minhas dificuldades, limitações, mas sem vergonha de ser o que eu sou”.

Sirene do Parque São Jorge e comemoração do Porco

 

Adil não tem motivos para se envergonhar e sim para se orgulhar. Afinal, ele teve uma carreira nacional no futebol dos anos 1980 e 1990, época que carrega memória afetiva forte de quem acompanhou o esporte, tanto pela qualidade, quanto pela irreverência dos jogadores que atuaram neste período.

Após dar os primeiros passos no America-RJ, onde chegou aos 14 anos, Adil se transferiu para a base do Cruzeiro depois de se recuperar de uma lesão grave em um dos tornozelos.

Já profissional, o meia conseguiu jogar na Raposa, mas não com a frequência que gostaria. Com isso, ele foi emprestado para FigueirenseTupi (veja acima um gol dele contra o Atlético-MG no Mineiro de 1989) Ferroviária, clubes onde fez bons estaduais em Santa Catarina, Minas Gerais e São Paulo.

E foi em terras paulistas que Adil chamou a atenção da Portuguesa e de um ex-goleiro e então treinador promissor no início dos anos 1990. Emerson Leão gostou do que viu no meio-campista e levou o jogador para a Lusa.

— Fizemos um jogo contra eles, e o Leão passou perto do banco de reservas antes do jogo e falou: “Não faz compromisso com ninguém não, que vou te levar para a Portuguesa”. Depois do jogo, um segurança foi ao meu vestiário e disse que o Leão queria falar comigo. Fui lá, expliquei que o passe era do Cruzeiro. E aí fui para a Portuguesa.

“Foi um dos grandes treinadores com quem trabalhei, porque ele ensinava a gente a ser profissional. Às vezes a gente cometia alguns equívocos, e o Emerson Leão sempre gostou das coisas direitas, certas. E a gente vai aprendendo”.

E é assim, pelo próprio exemplo e por viver uma vida alegre, ao lado das pessoas que ama, em alto astral, que Adil deixa uma mensagem no novo ciclo que se abre para ele.

— Sou muito feliz, acima de tudo. Ah, eu gostaria de jogar uma pelada? Sim, mas isso não me incomoda. Deus me deu a oportunidade de estar vivo, porque poderia ter sido um acidente fatal. Como eu superei esta fatalidade, eu consegui e procuro transmitir para as pessoas que nem tudo está perdido. Eu poderia ter partido há 25 anos, mas já que eu fiquei, alguma coisa de bom eu tenho que deixar aqui —concluiu.

https://ge.globo.com/mg/zona-da-mata-centro-oeste/futebol/noticia/2025/08/05/ex-corinthians-adil-dribla-sequelas-de-grave-acidente-e-chega-feliz-aos-60-sem-vergonha-de-ser-o-que-sou.ghtml

Kadu Fontana
Kadu Fontana
Jornalista registrado no MTE desde 2014 , radialista, e proprietário do Portal RKF. www.instagram.com/kadufontana/

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