Cidade como de Juiz de Fora tem apenas dois leitos de UTI para isolamento específico da doença: um no João Penido e outro no HU. Diante da divulgação da existência de quatro casos suspeitos de Covid-19 em São João Nepomuceno, restando ainda a confirmação, ou não, em exame preliminar, fizemos uma análise com a gestora do Hospital São João, Luciane Vieira, a qual demonstrou confiança, mas uma real preocupação com a capacidade de atendimento diante da
possibilidade de avanço do coronavírus na cidade e entorno nas próximas semanas.
Atualmente, o Hospital São João, que atende a 10 municípios e população estimada em 80.000 mil de habitantes, não possui nenhum leito de UTI ativo (segundo Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde – CNES). O LEITO DE UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) São leitos destinados à internação de pacientes graves ou de risco, que requerem atenção profissional especializada de forma contínua, materiais específicos e tecnologias necessárias aos diagnósticos e terapêutica em consonância a PT/GM/MS nº 3.432/1998 e a RDC/ANVISA nº 07/2010.
Atualmente, a Macrorregião Sanitária Sudeste, que reúne 94 municípios e população estimada em 1,6 milhão de habitantes, conta com 344 leitos de UTI ativos (segundo Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde – CNES). Desses, 190 estão em Juiz de Fora, sendo 133 na rede pública e 57 na privada. No entanto, se forem desconsiderados os leitos especializados (oncologia) e aqueles inoperantes, a quantidade total é reduzida para 277. Além disso, conforme o plano de contingência inicial do Estado, há apenas dois leitos de UTI para isolamento específico para a doença COVID 19, sendo um deles no Hospital Regional Doutor João Penido e outro no Hospital Universitário (HU).
Nossa esperança é que o Hospital São João ainda conta com 2 (dois) LEITOS DE UNIDADE DE CUIDADO INTERMEDIÁRIO (UCI), que são destinados a usuários em situação clínica de risco moderado, que requerem monitorização e cuidados intermediários entre a unidade de internação e a unidade de terapia intensiva, necessitando de monitorização contínua durante as 24 (vinte e quatro) horas do dia, além de equipamentos e equipe multidisciplinar especializada.
São critérios de elegibilidade para admissão em UCI entre outros, os apontadospela COVID 19, como os pacientes portadores de doença de vias aéreas oupulmonar moderada, que necessitam intervenção multidisciplinar monitorização, incluindo os itens abaixo, mas não restritos a eles: a) Pacientes com doença pulmonar progressiva (vias aéreas superiores ou inferiores), de gravidade moderada com risco de progressão para insuficiência respiratória ou com
potencial obstrutivo; b) Pacientes que requerem suplementação de oxigênio, através de cateter nasal, óculos nasal, máscara de Hudson ou máscara de Venturi;
c) Suporte ventilatório não-invasivo em pacientes egressos da UTI, ou aqueles
dependentes cronicamente de ventilação não-invasiva, sem instabilidade respiratória;
d) Pacientes utilizando nebulização contínua ou com intervalos
menores que 4/4 horas.
Embora o Hospital São João possua mais 03 leitos com respiradores mecânicos, os mesmos estão instalados no Centro Cirúrgico e por razões obvias não podem ser usados para internação. Segundo a gerente Luciane Vieira, está sendo preparada, orçada e adquirida mais uma sala de UNIDADE DE CUIDADO INTERMEDIÁRIO (UCI), com capacidade para receber mais 02 (dois) leitos. Todos os esforços estão sendo feitos para ampliação da capacidade de conseguir mais leitos, todavia, se esbarra na capacidade financeira, eis que apenas esta nova unidade com os 2 (dois) leitos está orçada em R$115.000,00 (cento e quinze mil reais). Existem espaços preparados no Hospital São João que podem ser destinados para instalação de mais UNIDADES DE CUIDADO INTERMEDIÁRIO (UCI), inclusive quanto mais leitos forem estimados os custos podem ser diluídos com os equipamentos, sendo estimado que para a criação de uma unidade com 5 (cinco) leitos seriam necessários uma quantia de R$200.000,00 (duzentos mil reais). Outros fatores necessários estão dificultando os trabalhos do Hospital São João, tais como as máscaras, quando em janeiro de 2020 uma caixa custava R$9,00 (nove reais), hoje é vendida a R$200,00 (duzentos reais) com limite de aquisição de apenas 2 (duas) caixas, as quais dão para apenas 2 (dois) dias. O vestuário necessário para o trabalho dos médicos tais como óculos e roupas protetoras, também estão no limite e não estão disponíveis no mercado, sendo este mais um obstáculo a ultrapassar. Nosso Hospital São João também necessitará contratar médicos para compor o seu quadro clínico eis que já estava deficitário. Além disso, dois médicos pediram afastamento devido à sua idade avançada, e assim estarem dentro da classe de risco, o que é por demais compreensível.
Chega-se à conclusão de que mesmo existindo 02 (duas) UNIDADES DE CUIDADO INTERMEDIÁRIO (UCI), e em breve a criação de mais 02 (duas), totalizando 4 (quatro), é insignificante perto de uma possível demanda que possa ocorrer,
principalmente naquela faixa etária, de pessoas mais idosas, que possam precisar de internações por período mais prolongado. Se um paciente de Covid-19 chega a uma UCI com dois leitos, por exemplo, ele interdita essa unidade como um todo. Então esse fluxo precisa ser desenhado, porque as outras doenças não vão deixar de acontecer, e todos precisam ser atendidos, ficando o alerta e a lembrança que outras enfermidades, como doenças do coração, tuberculose e outras também podem exigir UCI e isolamento. O Prefeito de São João Nepomuceno e os das demais cidades atendidas pelo Hospital São João não manifestaram, até a presente data, sobre um possível plano de contingência vislumbrado sobre a criação de novos leitos de UCI. O Hospital São João tem espaço próprio e suficiente para receber dezenas de leitos de UCIs, necessitando de aporte financeiro para que sejam adquiridos os equipamentos
exigidos e os recursos humanos necessários. Todas essas questões devem ser sanadas de forma imediata. Não temos mais tempo para discussões e negociações. Precisamos de uma ação efetiva por parte de todos os gestores, de um novo plano de contingência para se fazer frente a essa nova demanda, que já está chegando. Medidas concretas devem ser tomadas no sentido de ampliar o potencial de resposta.
Reportagem extraída do Jornal A Voz de São João.